Bernardo e Graça Mira Delgado |
Bernardo Mira Delgado destaca a forma como o enquadramento teológico da
família foi «muitíssimo bem abordado no primeiro dia, com algumas ideias novas,
pelo menos na forma de apresentação» e a maneira como se falou da «gratuidade e
da reciprocidade do trabalho, e das relações que havia entre a família e o
trabalho», enquanto que Graça Mira Delgado preferiu destacar a forma como a
festa se deve manifestar na vida da família, sempre ligada ao trabalho. «Uma
das coisas que me ficou é que vemos sempre o trabalho como oposição à festa. O
trabalho é o que nos retira da família, que nos afasta do prazer e do
bem-estar, e acho que aí é preciso fazer uma alteração profunda. Se o trabalho
for encarado como motor de desenvolvimento, pode ser uma arma para melhorar a
vida na família e não um obstáculo», sustentou a responsável do DNPF.
O grande desafio agora é, claro, fazer chegar a estas mensagens a todos
os quantos não tiveram oportunidade de assistir às conferências e aos discursos
do Papa. «Estas mensagens deverão ser passadas por todos os que tivemos a sorte
de aqui estar, porque é muito importante que tudo passe. É uma pena se isto
fica aqui fechado, se não se leva isto às pessoas», diz Bernardo Mira Delgado,
e Graça Mira delgado reconhece que a bola está do lado do DNPF. «Este é o
grande desafio que se nos coloca, a razão pela qual aqui estamos. Temos de
desmultiplicar esta informação por toda a gente. Esperamos que a Pastoral
Familiar seja impulsionada e chegue às pessoas», afirma.
Pouca participação portuguesa
preocupa responsável de Braga
Jorge Teixeira (à direita na foto) no Aeroporto de Bresso com o grupo de Braga |
Jorge Teixeira é responsável diocesano da Pastoral Familiar em Braga e
veio a acompanhar um dos grupos que se deslocou da cidade dos Arcebispos até
Milão. No final de tudo, a avaliação é também muito positiva, embora o
responsável defenda que não se possa fazer «copy
paste [cópia
literal]» disto para a realidade portuguesa. «Há coisas que são bases teóricas
que é importante quem trabalha estas áreas ter, e essas foram dadas. As
experiências, que era o que vínhamos mais à procura, é que têm de ser adaptadas.
Por exemplo, fui assistir a uma mesa redonda sobre casais divorciados onde se
deu a experiência de alguns casais e da forma como lidavam com a situação. É
óbvio que não podemos transpor para a nossa realidade tudo o que foi dito e
partilhado, mas pelo menos ficámos muito mais sensíveis, porque foram
testemunhos de vida muito tocantes», referiu Jorge Teixeira.
O responsável de Braga destaca o tema do Trabalho de entre as temáticas
abordadas no Congresso. «O trabalho que prejudica a família, porque é levado ao
exagero o excesso de horas que se dedica a ele, ou o trabalho que falta, e que
também prejudica a família por causa de todo o desconforto e desarranjo que faz
nas famílias», destacou.
O ponto menos bom de tudo foi mesmo a pouca participação portuguesa [cerca
de 120 pessoas, segundo contabilidade apresentada à FAMÍLIA CRISTÃ por D.
Antonino Dias, presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família], que
deixa este responsável apreensivo e crítico. «Acho que a nossa conferência episcopal
devia refletir um bocadinho sobre o que aconteceu em Milão e porquê. Quem é que
anima quem? São os leigos que têm de animar os bispos, ou são os bispos que têm
de animar os leigos? Funciona nos dois sentidos? O D. Antonino era o único
bispo português presente, não havia mais nenhum. Mas não podia estar aqui mais
ninguém? Isto é para as famílias, é certo, mas faltou claramente presença da
igreja portuguesa, faltou mobilização dos casais nas dioceses, da equipa
nacional, dos movimentos, que praticamente não estão presentes. Quando ouvimos
que são 150 os representantes de Angola, com 3 bispos e 10 padres, eu fico
corado de vergonha, porque nós não chegamos a tanto…», lamenta o responsável,
que não dúvidas que foram lançadas muitas bases de trabalho para o futuro nas
dioceses. «Não é por falta de conteúdos que vamos trabalhar mal, se o fizermos
é mesmo por falta de vontade…», conclui.