Resumo do Encontro Mundial das Famílias - Milão 2012

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Responsáveis da pastoral familiar avaliam VII Encontro Mundial das Famílias


Bernardo e Graça Mira Delgado
O VII Encontro Mundial das Famílias, que terminou ontem, mereceu uma avaliação positiva da parte dos responsáveis da pastoral familiar ouvidos pela FAMÍLIA CRISTÃ ainda em Milão. Bernardo e Graça Mira Delgado, o casal responsável pelo Departamento Nacional da Pastoral Familiar (DNPF), revelaram que, apesar do tema ser «estranho», os conteúdos do Congresso foram muito importantes. «Estávamos um pouco perplexos com o tema, mas no fundo é uma forma de integrar toda a vida das pessoas dentro da família. Tudo quanto é trabalho e tudo é festa, e no fundo é transformar toda a vida da família e integrá-la no mesmo projeto», referiu Graça Mira Delgado.

Bernardo Mira Delgado destaca a forma como o enquadramento teológico da família foi «muitíssimo bem abordado no primeiro dia, com algumas ideias novas, pelo menos na forma de apresentação» e a maneira como se falou da «gratuidade e da reciprocidade do trabalho, e das relações que havia entre a família e o trabalho», enquanto que Graça Mira Delgado preferiu destacar a forma como a festa se deve manifestar na vida da família, sempre ligada ao trabalho. «Uma das coisas que me ficou é que vemos sempre o trabalho como oposição à festa. O trabalho é o que nos retira da família, que nos afasta do prazer e do bem-estar, e acho que aí é preciso fazer uma alteração profunda. Se o trabalho for encarado como motor de desenvolvimento, pode ser uma arma para melhorar a vida na família e não um obstáculo», sustentou a responsável do DNPF.

O grande desafio agora é, claro, fazer chegar a estas mensagens a todos os quantos não tiveram oportunidade de assistir às conferências e aos discursos do Papa. «Estas mensagens deverão ser passadas por todos os que tivemos a sorte de aqui estar, porque é muito importante que tudo passe. É uma pena se isto fica aqui fechado, se não se leva isto às pessoas», diz Bernardo Mira Delgado, e Graça Mira delgado reconhece que a bola está do lado do DNPF. «Este é o grande desafio que se nos coloca, a razão pela qual aqui estamos. Temos de desmultiplicar esta informação por toda a gente. Esperamos que a Pastoral Familiar seja impulsionada e chegue às pessoas», afirma.

Pouca participação portuguesa preocupa responsável de Braga
Jorge Teixeira (à direita na foto) no Aeroporto de Bresso com o grupo de Braga
Jorge Teixeira é responsável diocesano da Pastoral Familiar em Braga e veio a acompanhar um dos grupos que se deslocou da cidade dos Arcebispos até Milão. No final de tudo, a avaliação é também muito positiva, embora o responsável defenda que não se possa fazer «copy paste [cópia literal]» disto para a realidade portuguesa. «Há coisas que são bases teóricas que é importante quem trabalha estas áreas ter, e essas foram dadas. As experiências, que era o que vínhamos mais à procura, é que têm de ser adaptadas. Por exemplo, fui assistir a uma mesa redonda sobre casais divorciados onde se deu a experiência de alguns casais e da forma como lidavam com a situação. É óbvio que não podemos transpor para a nossa realidade tudo o que foi dito e partilhado, mas pelo menos ficámos muito mais sensíveis, porque foram testemunhos de vida muito tocantes», referiu Jorge Teixeira.

O responsável de Braga destaca o tema do Trabalho de entre as temáticas abordadas no Congresso. «O trabalho que prejudica a família, porque é levado ao exagero o excesso de horas que se dedica a ele, ou o trabalho que falta, e que também prejudica a família por causa de todo o desconforto e desarranjo que faz nas famílias», destacou.

O ponto menos bom de tudo foi mesmo a pouca participação portuguesa [cerca de 120 pessoas, segundo contabilidade apresentada à FAMÍLIA CRISTÃ por D. Antonino Dias, presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família], que deixa este responsável apreensivo e crítico. «Acho que a nossa conferência episcopal devia refletir um bocadinho sobre o que aconteceu em Milão e porquê. Quem é que anima quem? São os leigos que têm de animar os bispos, ou são os bispos que têm de animar os leigos? Funciona nos dois sentidos? O D. Antonino era o único bispo português presente, não havia mais nenhum. Mas não podia estar aqui mais ninguém? Isto é para as famílias, é certo, mas faltou claramente presença da igreja portuguesa, faltou mobilização dos casais nas dioceses, da equipa nacional, dos movimentos, que praticamente não estão presentes. Quando ouvimos que são 150 os representantes de Angola, com 3 bispos e 10 padres, eu fico corado de vergonha, porque nós não chegamos a tanto…», lamenta o responsável, que não dúvidas que foram lançadas muitas bases de trabalho para o futuro nas dioceses. «Não é por falta de conteúdos que vamos trabalhar mal, se o fizermos é mesmo por falta de vontade…», conclui.

domingo, 3 de junho de 2012

Mais de 1,5 milhões de pessoas viram o Papa


O Pe. Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé, afirmou hoje em conferência de imprensa que mais de 1,5 milhões de pessoas estiveram com o Papa nestes três dias em que o Sumo Pontifíce esteve em Milão para o VII Encontro Mundial das Famílias. Este é um número que deixa o Papa «muitos satisfeito e sensibilizado», em virtude das várias manifestações de carinho que recebeu dos peregrinos presentes nas estradas, na Piazza del Duomo, no Teatro della Scala, no estádio de San Siro e no aeroporto de Bresso, onde 350 mil pessoas celebraram ontem a Festa dos Testemunhos e cerca de 1 milhão participou hoje na Santa Missa.

O Pe. Lombardi revelou ainda que o Papa ficou muito «contente» por ter podido ser ele a fazer o anúncio oficial da próxima cidade de acolher o Encontro Mundial das Famílias. «Obviamente que a escolha estava feita, não lhe apareceu por inspiração durante o Angelus, mas foi muito bom que ele pudesse ter anunciado apenas ali, e que o segredo se tivesse mantido», afirmou o Pe. Lombardi aos jornalistas presentes na conferência de imprensa que teve lugar após a celebração no Aeroporto de Bresso.

Ainda sobre a escolha de Filadélfia, o Pe. Lombardi explicou que a escolha tinha seguido um «critério geográfico». «O procedimento é termos uma rotatividade entre Europa e o resto do mundo, e portanto depois de Rio de Janeiro, Manila e México, o próximo será na América do Norte, onde iremos encontrar uma realidade cultural e espiritual muito diferente», disse o porta-voz do Vaticano.

Após a celebração da Santa Missa, Bento XVI almoçou com famílias dos vários continentes do mundo. Eram sete as famílias: de Bagdade, Iraque, a família Hassib, de duas pessoas; de Kinshasa, na República Democrática do Congo, os esposos Botolos; da Cidade do México, a família Gomez Serrano, composta pelo casal, o seu filho e uma avó; de Espanha os espanhois Burgos; da Austráliaa família Gree, de 4 elementos, entre os quais um seminarista: de Filadélfia, cidade que vai acolher o VIII Encontro Mundial das Famílias, a família Tumco, composta por sete elementos, os pais com cinco filhos; e finalmente, de Milão, cidade que acolheu este evento, a família Colzani foi ao almoço acompanhada dos seus quatro filhos, segundo informou a sala de imprensa do VII Encontro Mundial das Famílias.

Questionado sobre o porquê de o Papa ter falado tão especificamente sobre a temática dos casais divorciados, o Pe. Lombardi afirmou que o Papa não pretende mudar nada com este discurso. «Esta não foi uma mensagem para os padres ou os técnicos destas áreas. O Papa abordou a questão de uma forma pastoral, falando para as famílias que o ouviam. Ele considera que é tarefa das dioceses darem resposta a esta temática, e por isso o disse na sua homilia, e ele espera que esteja a haver este trabalho. Por isso, resolveu dar o seu contributo para esta questão, apesar de saber que o trabalho deve ser feito mais a nível local», sustentou o Pe. Lombardi.

No final da conferência de imprensa, o porta-voz do Vaticano elogiou a beleza do evento de Milão. «Vimos um Papa sereno e muito contente com esta jornada, estes três dias muito belos de pastoral da Igreja num evento internacional. Foi um evento eclesial muito expressivo do serviço da igreja para a sociedade. É uma mensagem positiva, não polémica, de tornar grande a voz da família, e foi um evento que expressa a missão da Igreja no mundo de hoje e na sociedade», concluiu.

Filadélfia recebe próximo Encontro Mundial das Famílias



O Papa Bento XVI anunciou que Filadélfia foi escolhida para receber o VIII Encontro Mundial das Famílias, em 2015. Durante a oração do Angelus, o Santo Padre fez o anúncio que deixou a delegação de Filadélfia muito feliz.

Dirigindo-se aos peregrinos de língua portuguesa presentes no Aeroporto de Bresso, em Milão, o Papa pediu que «reservem o domingo para Deus, e fazei festa com Deus».

«Saúdo as famílias dos diversos países de língua portuguesa, aqui presentes ou em comunhão connosco, a todas recordando o olhar da Trindade divina que, desde a aurora da criação, se pousou sobre a obra feita e com ela se alegrou: «Era muito boa!» Queridas famílias, sois o trabalho e a festa de Deus! Reservando o domingo para Deus, fazei festa com Deus e repousai, juntos, na Fonte donde brota a vida para construir o presente e o futuro. As forças divinas são bem mais poderosas que as vossas dificuldades! Não tenhais medo! Sede fortes de Deus! Com alegria, vos anuncio que o próximo Encontro Mundial será em 2015 na cidade americana de Filadélfia», disse o Papa.

No final da oração do Angelus, Monsenhor De Scalzi anunciou que o Papa tinha decidido doar 500 mil euros para ajudar no trabalho das dioceses que tinham sido afetadas pelos terramotos recentes.

«A vocação do amor é a única que pode transformar o mundo de verdade»



Na homilia da missa de encerramento do VII Encontro Mundial das Famílias, em Milão, Bento XVI fez um discurso virado para a família, como seria de esperar. O Papa saudou todos os presentes e começou por afirmar que as comunidades cristãs deveriam todas ser «cada vez mais como famílias». «Está-nos confiada a tarefa de construir comunidades eclesiais que sejam cada vez mais família, capazes de refletir a beleza da Trindade e evangelizar não só com a palavra mas – diria eu – por “irradiação”, com a força do amor vivido», referiu o Papa.

Referindo-se ao casamento, Bento XVI defendeu que «é o amor que faz da pessoa humana a autêntica imagem de Deus». «Deus criou o ser humano, homem e mulher, com igual dignidade, mas também com características próprias e complementares, para que os dois fossem dom um para o outro, se valorizassem reciprocamente e realizassem uma comunidade de amor e de vida», defendeu. Revelando aos casais que, «na vivência do matrimónio, não dais qualquer coisa ou alguma actividade, mas a vida inteira», o Papa sustentou que o amor fecundo do casal revela-se em várias facetas. «O vosso amor é fecundo, antes de mais nada, para vós mesmos, porque desejais e realizais o bem um do outro, experimentando a alegria do receber e do dar. Depois é fecundo na procriação generosa e responsável dos filhos, na solicitude carinhosa por eles e na educação cuidadosa e sábia. Finalmente é fecundo para a sociedade, porque a vida familiar é a primeira e insubstituível escola das virtudes sociais, tais como o respeito pelas pessoas, a gratuidade, a confiança, a responsabilidade, a solidariedade, a cooperação», salientou, perante uma multidão de cerca de 850 mil pessoas, que o escutava em profundo silêncio.

Não se esquecendo as crianças, o Papa advertiu os pais para a importância da educação dos seus filhos. «Cuidai dos vossos filhos e, num mundo dominado pela técnica, transmiti-lhes com serenidade e confiança as razões para viver a força da fé, desvendando-lhes metas altas e servindo-lhes de apoio nas fragilidades», pediu o Santo Padre, que de seguida se dirigiu aos filhos, exortando-os a «manter sempre uma relação de profundo afeto e solícito cuidado com os vossos pais», e «entre irmãos e irmãs».

Bento XVI não ignora as dificuldades por que passam os casais hoje em dia, mas apelou a que escutassem e seguissem os testemunhos das famílias presentes neste Encontro: « manter um relacionamento perseverante com Deus e participar na vida eclesial, cultivar o diálogo, respeitar o ponto de vista do outro, estar disponíveis para servir, ser paciente com os defeitos alheios, saber perdoar e pedir perdão, superar com inteligência e humildade os possíveis conflitos, concordar as directrizes educacionais, estar abertos às outras famílias, atentos aos pobres, ser responsáveis na sociedade civil», enumerou. Mais do que saber como se constrói uma relação em casal, o Papa quer que as famílias se tornem «um Evangelho vivo, uma verdadeira Igreja doméstica».

O problema dos cristãos divorciados esteve presente também na homília de Bento XVI, que pediu às dioceses que trabalhem para os saber acolher nas suas comunidades. «Quero dedicar uma palavra também aos fiéis que, embora compartilhando os ensinamentos da Igreja sobre a família, estão marcados por experiências dolorosas de falência e separação. Sabei que o Papa e a Igreja vos apoiam na vossa fadiga. Encorajo-vos a permanecer unidos às vossas comunidades, enquanto almejo que as dioceses assumam adequadas iniciativas de acolhimento e proximidade», disse o Papa.

O tema deste Encontro Mundial das Famílias, «A Família: Trabalho e Festa», não foi esquecido nesta homília. O Papa criticou as teorias económicas modernas, onde «prevalece muitas vezes uma conceção utilitarista do trabalho, da produção e do mercado económicas». «O projeto de Deus e a própria experiência mostram que não é a lógica unilateral do que me é útil e do maior lucro que pode concorrer para um desenvolvimento harmonioso, o bem da família e para construir uma sociedade mais justa, porque traz consigo uma competição exasperada, fortes desigualdades, degradação do meio ambiente, corrida ao consumo, mal-estar nas famílias. Antes, a mentalidade utilitarista tende a estender-se também às relações interpessoais e familiares, reduzindo-as a convergências precárias de interesses individuais e minando a solidez do tecido social», argumentou o Papa.

O final da homília foi dedicado à importância do Domingo, enquanto dia de festa e de descanso. «Queridas famílias, mesmo nos ritmos acelerados do nosso tempo, não percais o sentido do dia do Senhor! É como o oásis onde parar para saborear a alegria do encontro e saciar a nossa sede de Deus», apelou Bento XVI, para quem «as três dimensões da nossa vida [família, trabalho e festa], se devem encontrar num equilíbrio harmonioso». «Harmonizar os horários do trabalho e as exigências da família, a profissão e a maternidade, o trabalho e a festa é importante para construir sociedades com um rosto humano», concluiu.

Na estrada desde o amanhecer para rezar com o Papa


Nas primeiras horas da manhã para os voluntários do Parco Nord já estão trabalhando, as crianças estão sonolentas e os casais que são «veteranos» destas reuniões da igreja e aqueles para quem a «Família» é sua primeira experiência grande: todos estão à espera do grande Missa de encerramento.

No último dia do Encontro Mundial das Famílias 2012, os grupos de peregrinos acordam lentamente, como que à espera do nascer do sol. Às cinco, o exército de voluntários está quase sozinho na área do Milan Parco Nord - Aeroporto de Bresso, onde a Missa de encerramento será celebrada. Alguns levantaram-se antes de quatro horas, a fim de deixar tudo pronto, e agora podem desfrutar de alguns momentos de tranquilidade nas cadeiras atrás do palco. Eles brincam com os responsáveis das equipas que os chamam. «Daqui só nos mexemos para receber o Papa» Na relva já há várias famílias, as mais determinadas e corajosas, que ontem à noite após a Festa de testemunhos montaram barracas, convencidos de que o melhor lugar para dormir estava lá no parque.

Aqui os protagonistas são crianças. São eles que, com mais ou menos sono, deixam claro o quão perto está o momento da celebração. Alguns estão em tendas tão pequenas que parecem brinquedos. O mais novo, que ontem à noite estavam certos: "podemos jogar agora, e amanhã vamos jogar de novo" - estão agora afundado no sono, enquanto os pais cuidam do pequeno-almoço. Para muitos, é a sua primeira experiência de uma noite passada com seus filhos fora das suas camas em casa. Um casal de Novara, com quatro crianças de 8 anos para baixo, são veteranos dos Dias Mundiais da Juventude e estavam ansiosos para experimentar o primeiro "dia" com seus filhos.

Lutando contra o sono, pouco a pouco os peregrinos chegam ao parque. Entre os primeiros, pouco depois das quatro, vem o marido e a esposa de Mântua. Para eles, que tem uma banca no mercado local, não é um problema acordar cedo.

Depois, há as delegações estrangeiras. Um pequeno grupo de venezuelanos vieram com os seus filhos nos braços, envoltos em cobertores: participaram no Congresso Internacional Teológico-Pastoral desde terça-feira, e agora estão sentados nos bancos da frente reservados para eles.Pouco a pouco, os espaços são preenchidos, e as peças do quebra-cabeça reúnem-se com vários grupos. A maioria são italianos, mas há também muitos espanhóis, portugueses, ingleses, e muitos sul-americanos. Com o passar do tempo, o sono dá lugar à antecipação e preparação para a missa. Alguns têm café, outros, os filipinos, estão em pé prontos com livros de orações e gostariam de avançar o mais perto possível, para terem a certeza de ver Bento XVI. As expetativas são muito grandes, pois, todos concordam que a celebração de hoje é o culminar de muitos dias intensos e emocionantes.

Enquanto os sacerdotes chegam, começam os testes de som, e o fluxo de peregrinos que entram no parque torna-se um fluxo grande. O mais surpreendente é a tranquilidade das famílias. A alegria do momento está nos olhos de todos. Eles estão gratos pela grande receção durante estes dias. Os últimos a levantarem-se são casais jovens, como acontece muitas vezes, com os recém-apaixonados. Os pais, entretanto, não são levados pela aventura de estar longe de casa. Eles são os mais organizados, e este domingo de manhã, veem isso como uma grande experiência com as suas famílias. E, agora, tudo está pronto para a celebração conclusiva.

Com Sala de Imprensa do VII Encontro Mundial das Famílias

Aprender a lição e fazer o trabalho de casa

Apesar do encontro estar a decorrer desde terça-feira, muitos dos peregrinos que se deslocaram até ao aeroporto de Bresso vieram apenas para estes momentos com o Papa. Foi o caso dos casais Santos, Carlos e Helena e Maria da Luz e Vítor, que vieram da Lourinhã apenas para estar com o Papa. Vamos encontra-los num dos primeiros gradeamentos livres, bem perto do sítio por onde vai passar o Papa.

Passaram a noite no recinto, e aproveitaram as primeiras horas do dia para se chegarem à frente, para onde tudo vai acontecer. «As inscrições só tiveram abertas 10 dias na nossa paróquia, e quando nos quisemos inscrever já estavam fechadas. O Vitor sugeriu virmos na mesma, comprámos os bilhetes e viemos assim um bocado à maluca, só mesmo para o encontro com o Papa», conta o Carlos. Aproveitando um conhecimento que Vítor Santos tinha junto do Caminho Neocatecumenal, juntaram-se ao grupo que já cá estava desde o início do Encontro. «No sábado de manhã fomos ter com eles à paróquia onde estavam, e depois fomos a uma celebração lindíssima na igreja de S. Ambrósio, e viemos para aqui», diz Vítor Santos.

O Carlos conta que a noite passada foi muito interessante. «À noite foi muito valioso no que diz respeito à família. É uma pena que isto não passe da teoria à prática. As famílias estão muito dispersas, muito desmotivadas, e era bom que o ser humano conseguisse ver as coisas de uma forma mais cristã, e é esse o trabalho que as famílias cristãs têm de fazer», sustentou. Maria da Luz refere à Família Cristã que é a participação neste tipo de eventos que dá mais força a quem vive este espírito. «Estes encontros são muito importantes. Vejo pelo meu filho que participa nestes encontros grandes, como é o caso das Jornadas Mundiais da Juventude, e vem de lá transformado, muito motivado, isto ajuda muito, porque a força de estarem todos juntos dá ânimo», diz, convicta.

Carlos Santos faz uma avaliação também muito positiva desta primeira experiência num evento destes. «Esta experiência está a ser muito interessante, é a primeira vez que participamos num evento com tanta gente junta. O objetivo foi bem traçado e bem conseguido, mas temos de levar a lição que aprendemos aqui e fazer o nosso trabalho de casa, senão isto não serviu para nada», alerta.

sábado, 2 de junho de 2012

Crise e fé no Encontro Mundial das Famílias



Bento XVI celebrou hoje com milhares de famílias de 153 países, incluindo Portugal, uma “festa dos testemunhos” que encerrou o penúltimo dia do Encontro Mundial que decorre em Milão, com a crise como pano de fundo, segundo noticia a Agência Ecclesia. «Na política, parece-me que deveria crescer o sentido de responsabilidade em todos os partidos, para que não prometam coisas que não podem realizar», disse o Papa, provocando uma salva de palmas dos presentes.

A intervenção de Bento XVI surgia em resposta ao testemunho da família Paleologos, da Grécia, que falou das dificuldades sentidas na sua pequena empresa de informática. «A nossa situação é uma entre tantos milhões, nas cidades as pessoas andam de cabeça baixa», constatou Nikos, o pai grego que confessou ter «cada vez menos» para oferecer à sua família. «Este testemunho tocou o meu coração e o coração de todos nós. Que podemos responder? As palavras são insuficientes», disse o Papa, em seguida. Bento XVI desejou que as famílias e as paróquias «ajudem, no sentido concreto», os que sentem mais dificuldades e disse rezar para que exista «criatividade» na solução das dificuldades criadas pela atual crise financeira. Nesse contexto, aludiu à geminação de cidades e propôs que estas ganhem «outro sentido»: «Que realmente uma família do Ocidente, da Itália, da Alemanha, da França, assuma a responsabilidade de ajudar uma outra família».

Após chegar ao aeroporto onde se desenrola a iniciativa, no norte de Milão, o Papa cumprimentou uma pequena menina de 7 anos, Cat Tien, do Vietname, que o interrogou sobre a sua infância. Bento XVI, nascido na Alemanha, lembrou a guerra, a pobreza e a ditadura, situações que o afetaram diretamente, superadas pela «união» entre todos os elementos da família. Este 7.º Encontro Mundial das Famílias (EMF), iniciado na quarta-feira, tem como tema ‘A família: o trabalho e a festa’. O Papa pediu que os empregadores pensem «em ajudar as famílias» a conciliar a sua atividade laboral com a vida em casa e apelou ao respeito pelo domingo como o dia em que todos «estão livres».

 Aos noivos Serge Razafimbony e Fara Andrianombonana, de Madagáscar, Bento XVI disse que «o amor, por si próprio, garante o "sempre" no matrimónio. «O sentimento do amor é belo, mas deve ser purificado, seguir um caminho de discernimento», prosseguiu.

Bento XVI falou ainda com os membros da família Rerrie, dos Estados Unidos da América, com seis filhos, e da família Araújo, do Brasil. O Papa aludiu ao «sofrimento» provocado pelos divórcios, também no seio da Igreja Católica, desejando que os que passam por esta situação «sintam que são amados e aceites», ainda que não possam receber a comunhão nas celebrações eucarísticas. Durante o evento houve uma ligação direta a uma das localidades afetadas pelo recente terramoto no nordeste da Itália e uma das famílias atingidas marcou presença no palco.

'Um mundo, uma família, um amor. O Papa em festa com as famílias do mundo’ foi o tema escolhido para a celebração, que incluiu, entre outros artistas, a atuação da cantora portuguesa Dulce Pontes, logo após a saída de Bento XVI. O Aeroporto de Bresso, onde estiveram esta noite cerca de 350 mil pessoas, segundo os organizadores do encontro, acolhe no domingo de manhã a missa conclusiva do EMF 2012.

D. Antonino Dias quer que mensagens do Encontro passem para as famílias que não vieram


D. Antonino Dias, bispo de Portalegre e Castelo Branco e presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), considera que «as dioceses têm de assumir a sua quota parte de responsabilidade» no passar da mensagem destes dias do VII Encontro Mundial das Famílias, que está a decorrer em Milão.

O prelado responsável pela família em Portugal faz uma avaliação muito positiva do encontro. «Está a correr de forma positiva, e não se esperava outra coisa com o tema que foi proposto. Tem sido extraordinário, não só pela presença das pessoas, como pelas intervenções que houve no congresso», afirmou à Família Cristã antes do início da Festa dos Testemunhos, que vai decorrer no aeroporto de Bresso, em Milão. «Foram comunicações muito ricas da parte de todos os conferencistas, que abordaram temáticas que não são novidade, mas que foram aprofundadas de uma forma muito bela. Procurou dizer-se mais uma vez que a família não é do passado, é do futuro, e é isso que interessa mais retirar destes dias: a família tem futuro, e é isso que temos de pensar se queremos que a sociedade tenha futuro», avisou o bispo de Portalegre e Castelo Branco.

D. Antonino Dias não se mostrou muito desapontado com a participação portuguesa. «Não sei bem calcular a participação portuguesa. Pelas reuniões que fizemos tínhamos uma ideia de cerca de 120 pessoas, mas houve mais que vieram pelos seus meios», disse o bispo, que assumiu que agora é importante passar estas mensagens às famílias que ficaram em Portugal. «O grande desafio e também estímulo é fazer passar esta mensagem às famílias que não vieram. Todos temos de procurar passar essa mensagem, mas as dioceses têm de assumir a sua quota-parte de responsabilidade nesta tarefa».

No que diz respeito às mensagens chave do congresso, o presidente da comissão episcopal Laicado e Família destaca as intervenções sobre o próprio matrimónio e o trabalho. «Antes de mais, é a própria estrutura do matrimónio, que existe e há-de existir, e o trabalho, que marca o ritmo das famílias. Uma família que não tenha trabalho é negativo para a própria família, mas também aqueles que têm trabalhos que não são dignificantes refletem na família essa frustração, o que não dará bons resultados», concluiu.

Papa «sensibilizado» com receção das pessoas


O Pe. Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano
O Pe. Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé, estve hoje na sala de imprensa do VII Encontro Mundial das Famílias para fazer a avaliação do Papa em relação aos momentos vividos até ali. Segundo o Pe. Lombardi, o Papa estava muito «satisfeito e sensibilizado» com a receção que teve em Milão. «Estavam 150 mil pessoas nas estradas, 60 mil na praça Duomo e 80 mil hoje no estádio de San Siro, são números que metem respeito e que significa mito empenho da parte de todos», disse o sacerdote.

Falando do Encontro Mundial das Famílias, que juntou em Milão delegações de «153 países, 50 cardeais e 300 bispos», o porta-voz do Vaticano destacou o momento cultural de sexta-feira à noite, no Teatro della Scala. «No início, achei que não seria uma ideia muito boa, mas depois vi que sim. O Papa ficou muito satisfeito com o encontro entre o Milão laico e católico, pois foi o sentir de uma comunidade muito ampla», referiu, citando de seguida o discurso do Papa, em que «lembrou a reconstrução do Scala e o ligou à reconstrução da própria cidade, depois do terramoto». O tema do terramoto ganhou, aliás, maior destaque depois dos eventos recentes, que estiveram presentes em muitos dos eventos deste Encontro, inclusive o concerto de ontem, que foi dedicado às vitimas dos terramotos recentes. «O facto de ter havido um terramoto tão recente ajudou a dar um sentido extra de espiritualidade e solidariedade a este momento», afirmou o Pe. Lombardi, que lembrou a «sublime» intervenção do bispo de Mantua na adoração eucarística que se seguiu ao concerto, onde também foram lembradas as vítimas dos terramotos.

No que diz respeito ao evento com os jovens no estádio de San Siro, o porta-voz da Santa Sé afirmou que «Bento XVI está muito contente, pois não se recorda de ter tido um evento juvenil desta dimensão e organização nos últimos tempos».

O Pe. Lombardi concluiu dizendo que o Papa está bem de saúde, apesar da sobrecarga de eventos que vai ter hoje, sábado, já que teve 3 celebrações de manhã e ainda irá à Festa dos Testemunhos à noite e receberá as autoridades civis durante a tarde. «O Papa está contente e satisfeito com o acolhimento que tece. Ele é muito sensível à receção das pessoas, e aqui em Milão ficou muito sensibilizado com a receção que teve», concluiu.

Bento XVI lança desafios aos jovens


O estádio de San Siro encheu para receber o Papa

O Papa esteve hoje com mais de 70 mil pessoas, sobretudo jovens, no Estádio Giuseppe Meazza, em Milão. Deixou-lhes o desafio de «vencerem a tentação do mal e fazerem sempre o bem».
«Sede disponíveis e generosos com os outros, vencendo a tentação de vos colocardes a vós mesmos no centro, porque o egoísmo é inimigo da alegria», afirmou Bento XVI.
Antes do encontro, os participantes ouviram o testemunho de Laura, que recebeu o batismo, a comunhão e o crisma aos 23 anos para «dar um sentido de profundidade à vida».
No relvado foi colocada a palavra 'Pietro' (Pedro) em referência ao primeiro Papa da Igreja Católica.
Giovanni, um dos rapazes presentes no encontro, dirigiu-se ao Sumo Pontífice, em nome de todos: «Queremos dizer-te que tu és para nós o maior campeão e também o treinador da imensa equipa que é a Igreja.»
Bento XVI disse que o encontro com os mais novos constituía «uma grande alegria». E frisou que naquele famoso estádio de futebol, também conhecido como San Siro, eram eles os «protagonistas».
«Digo-vos com força: aspirai aos altos ideais, sede santos», realçou.
 «A santidade é a vida normal do cristão, não é reservado a alguns poucos eleitos, mas aberta a todos», acrescentou.
Dirigindo-se em particular aos jovens que receberam o sacramento da Confirmação ou se preparam para o fazer, o Papa falou nas «coisas fantásticas» que o Espírito Santo faz na vida de cada pessoa.
Bento XVI lembrou os dons do Espírito Santo: a sapiência, o intelecto, o conselho, a fortaleza, a ciência, a piedade e o temor de Deus, «que não significa ter medo dele, mas sentir por Ele um profundo respeito e o desejo de fazer sempre a sua vontade».
O Papa disse aos presentes para «participarem sempre com alegria e fidelidade na missa dominical» e a promover a «oração pessoal de todos os dias».
«Aprendei a dialogar com o Senhor, confia-vos a Ele, contai-lhe as alegrias e preocupações, pedi luz e apoio para o vosso caminho», disse.
Bento XVI frisou aos jovens que Deus os chama a «coisas grandes» todos os dias e deixou um apelo: «Estai abertos àquilo que o Senhor vos sugere e se vos chamar à via do sacerdócio ou da vida consagrada, não digais que não.»
«Não sejais preguiçosos, mas adolescentes e jovens comprometidos, em particular no estudo: é o vosso dever quotidiano e uma grande oportunidade que tendes para crescer», afirmou.
Depois do encontro, o Papa seguiu para a sede da arquidiocese milanesa, onde almoça em privado.

Papa pede «plena obediência»

O Papa pediu hoje que os padres e religiosos da Igreja Católica tenham uma vida de «plena obediência à vontade de Deus», fazendo «crescer a comunhão eclesial». As palavras de Bento XVI foram proferidas num encontro de oração na catedral de Milão, onde está a acontecer o VII Encontro Mundial das Famílias (EMF), cujo tema é «A família: o trabalho e a festa». «Não há oposição entre o bem da pessoa do sacerdote e a sua missão, pelo contrário, a caridade pastoral é elemento unificador da vida que parte de uma relação cada vez mais íntima com Cristo na oração», disse.

 O Papa destacou a «amorosa obediência de Jesus à vontade do Pai», no momento da sua morte, e elogiou «o celibato sacerdotal e a virgindade consagrada» como sinais de «caridade pastoral e de um coração indiviso». «Apenas e sempre em Cristo se encontra a fonte e o modelo para repetir todos os dias o "sim" à vontade de Deus», prosseguiu.

 Bento XVI conclui a sua intervenção com apelos à oração pelas vocações, «para mostrar ao mundo a beleza da doação a Cristo e à Igreja» e «renovar as famílias cristãs segundo o desígnio de Deus, para que sejam lugares de graça e de santidade». E pediu para se olhar para o futuro «com confiança». Depois da celebração, o Papa visitou em privado a cripta onde se encontram as relíquias de São Carlos Borromeu (1538–1584), cardeal e arcebispo de Milão.

O verdadeiro Encontro das Famílias


A festa foi grande entre as famílias italianas, que abriram as portas de suas casas, e as famílias portuguesas que receberam a dádiva de coração aberto

A organização do Encontro Mundial das Famílias optou por alojar muitos peregrinos junto das famílias de Milão. Ao mesmo tempo que permitia baixar o orçamento da viagem para quem se deslocava a Milão, o que é sempre importante em tempos de crise, esta foi uma decisão que permitiu a troca de experiências entre famílias que, convivendo na mesma casa durante os dias do Encontro, pôde trocar experiências e testemunhos.
Quando confrontada com a possibilidade de receber famílias em suas casas, a paróquia de S. Pio X não teve dúvidas e abriu as portas da comunidade e das suas casas. Em sorte, ou talvez não por acaso, calhou-lhes receber a delegação portuguesa da diocese de Leiria-Fátima e um dos grupos que se deslocava da diocese de Braga, num total de 22 pessoas. «Provavelmente, recebemos portugueses porque eu falo um pouco de português», refere-nos Angelo Bignamini, uma dos responsáveis pela receção aos portugueses, que esteve três anos a trabalhar no nosso país.

É sexta-feira à noite e a mesa está posta no centro paroquial. Apesar de não ser a última noite, no sábado muitos estarão com o Papa na Festa dos Testemunhos, e assim é hoje que se faz a despedida oficial e organizada. Depois da mesa farta, vêm as cantorias. Músicas portuguesas, cantadas por italianos, que vieram cá parar aprendidas no Brasil. «Muitos dos paroquianos fazem parte do movimento Comunhão e Libertação, e alguns dos sacerdotes italianos foram em missão para o Brasil, onde ouviram estas músicas e as trouxeram para cá, e ainda hoje elas se cantam em português», refere Angelo. Entre uma e outra música, que não se coíbe de cantarolar, conversamos sobre esta experiência que foi receber famílias em suas casas. «Foi algo de fantástico. Cada vez que famílias se encontram umas com as outras, com experiências diferentes mas um sentido comum, isso leva inevitavelmente a uma experiência grande», defende o professor reformado que ainda dá aulas no politécnico da zona. Apesar de não haver eventos organizados na comunidade, em virtude do já pesado programa do Encontro, Angelo explica que a comunidade S. Pio X ganha muito com estas trocas. «As famílias falam muito entre elas em casa, à noite, e isso volta para a comunidade sob a forma de testemunhos das famílias que acolheram e trazem depois essas experiências para a comunidade», argumenta.

A apresentação começa com uma atuação do coro do Instituto Sacro Cuore que ainda não tem nome. Cerca de dez jovens, em calções e t-shirt, entram na sala e faz-se silêncio. As músicas são cânticos das tropas de montanha, ou Canti Degli Alpini, que os soldados de montanha cantavam na 1ª Guerra Mundial e que se tornaram música popular no Norte de Itália. Seguem-se as tais canções portuguesas cantadas por italianos, e algumas versões portuguesas, cortesia dos peregrinos portugueses, que não quiseram deixar de agradecer aos seus anfitriões esta receção. «Nós, portugueses, achamos que sabemos receber e somos acolhedores, mas aqui aprendemos uma lição. Eu e a minha mulher ficámos a dormir no quarto principal da casa, e os donos da casa ficaram na sala, porque é assim que se recebe por aqui», conta-nos Jorge Teixeira, responsável diocesano da Pastoral Familiar em Braga. A esposa, Alexandra, recorda como foram tão bem recebidos. «Quando aqui chegámos, tínhamos um comité de boas-vindas à nossa espera, e algumas das pessoas que ficaram sem receber ninguém em suas casas ficaram muito tristes. É um espírito fantástico que temos vivido aqui», diz.

José Silva, cujo testemunho puderam ler na edição de Junho da FAMÍLIA CRISTÃ, estava «muito contente» com o andamento tanto do congresso como da forma como as coisas estavam a correr na paróquia, e não resiste a contar o momento caricato do dia. «Ofereci-me para dar informações a uma senhora que, ao ver-me, me disse logo “você está na revista FAMÍLIA CRISTÃ deste mês”, foi muito engraçado ser reconhecido aqui, no meio do Congresso», disse, entre risos. Prova clara de que os nossos leitores são atentos e participam nestes eventos tão importantes para a família…

O Jorge Braga, que é de Braga tanto no nome como na cidade de origem, estava sem palavras perante tudo. «Foi a primeira vez que vim a um Encontro, a primeira vez que vi o Papa, a primeira vez em Itália, a primeira vez para tudo, e está a ser uma experiência fantástica. Nunca estive com uma família de acolhimento, e nunca imaginei que as famílias que conhecemos aqui tivessem uma abertura tão grande para com pessoas que não conhecem de lado nenhum. Eu próprio não sei se teria esta abertura e iniciativa se estivesse a receber, mas agora sei que é assim que devemos ser para com os outros, e já convidei a família que me recebeu a ir visitar-nos lá», afirma.
A noite termina com um Pai-Nosso e uma Avé Maria rezados de mão dada, italianos e portugueses, cada um a rezar na sua própria língua, mas com a mesma fé e o mesmo sentido. Mais do que as intervenções do congresso ou os ateliês e as mesas redondas, são estas experiências paralelas que tornam estes encontros tão fortes e marcantes…

Papa lembra famílias afetadas pela crise

Uma multidão em festa recebeu Bento XVI na Piazza del Duomo, em Milão


O Papa disse hoje em Milão que todos «têm necessidade de ajuda e conforto», aludindo às «várias preocupações» das famílias contemporâneas, sobretudo as «mais atingidas pela crise económico-financeira». «Que não falte a nenhum destes nossos irmãos e irmãs o interesse solidário e constante da coletividade.» Bento XVI dirigiu-se em particular às «pessoas sós ou em dificuldade, aos desempregados, aos doentes, aos presos, a quantos estão privados de uma casa ou do indispensável para viver uma vida digna.

Nesta intervenção, o Papa lembrou ainda as vítimas dos terramotos no nordeste de Itália, onde 23 pessoas morreram e 14 mil ficaram desalojadas. O Sumo Pontífice elogiou a Igreja Católica e a sociedade civil por terem reagido «imediatamente» em socorro das populações, convidando «a uma generosa solidariedade». No seu discurso realçou a família como «principal património da humanidade» e base do «verdadeiro bem-estar». Recorde-se que o Papa está em Milão para o VII Encontro Mundial das Famílias, cujo tema é "Família: trabalho e festa", onde participam mais de uma centena de países, entre os quais Portugal. «Milão é chamada a redescobrir este seu papel positivo, prenúncio de desenvolvimento e de paz para toda a Itália», acrescentou.

O discurso de Bento XVI foi várias vezes interrompido pelas palmas dos presentes. Foi sublinhado o «profundo sentido eclesial e o sincero afeto de comunhão com o sucessor de Pedro» na comunidade católica da região e elogiada também a «riquíssima história de cultura e de fé». «Na clara distinção de papéis e finalidades, a Milão positivamente "laica" e a Milão da fé são chamadas a concorrer para o bem comum», observou. O Papa assistiu depois a um concerto, em sua homenagem, no Teatro La Scala. Sábado, pelas 10h00, decorre a celebração de laudes, com os padres, religiosos e religiosas da diocese milanesa, na catedral local. Depois, Bento XVI desloca-se ao Estádio Giuseppe Meazza, também conhecido como San Siro, para um encontro com jovens. À tarde, haverá uma reunião com as autoridades civis de Milão, antes da participação, pelas 20h30, na "Festa dos Testemunhos" inserida no Encontro Mundial das Famílias. Domingo, a celebração da missa será às 10h00, no Parque Norte, na periferia da cidade.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Uma oliveira pela paz e pelo diálogo inter-religioso


A partir de hoje, o VII Encontro Mundial das Famílias tem também nos espaços de Mico - FieraMilanoCity, o seu emblema: na verdade, uma árvore de oliveira jovem que chegou esta manhã diretamente da Nazaré, foi doada pelo Ministério do Turismo israelita ao Cardeal Scola, arcebispo de Milão. A iniciativa, promovida pela cidade de Nazaré e aprovada pelo Ministério do Turismo, praticamente une a cidade da Sagrada Família que, nestes dias, recebe peregrinos provenientes de 153 países diferentes.

O Arcebispo Scola, recebendo a oliveira das mãos de Tzvi Lotan, Conselheiro para os Assuntos Turísticos da Embaixada de Israel, cercado por muitas crianças nativas de diferentes partes do mundo, destacou como «este gesto nos mostrar o caminho de uma tarefa que nos espera a todos: a conquista da paz e da fraternidade no Médio Oriente, uma terra atormentada, onde até mesmo os cristãos sofrem perseguição». Constatando que as duas religiões, cristãs e judaicas, estão intrinsecamente ligadas pela Palavra de Deus e pela importância da oração em ambos, o cardeal Scola, que tinha ao lado o Cardeal Antonelli, salientou também como a oliveira, que vai crescer ( será plantada no final do Congresso dos Jovens no pátio da Cúria do arcebispo de Milão), «pode e deve ser um sinal de responsabilidade para com a família, como um lugar onde se pode viver em equilíbrio entre trabalho e o descanso».

Tzvi Lotan fez suas as palavras dos prelados, e disse, dirigindo-se ao Arcebispo, «Eminência é agora o guardião desta árvore, zelador para toda a família cristã». Eu sei, disse ele nos bastidores, «o grande empenho do cardeal na promoção do diálogo e da paz no Médio Oriente e no nosso país. É uma honra ter entregue em suas mãos a oliveira, o emblema do futuro, da reconciliação e diálogo, mas também da família», referiu.

O sentido do trabalho hoje

Há ideias que ficam a fazer eco naquele que foi o segundo dia dos trabalhos do Congresso Internacional Teológico Pastoral. Vale a pena lembrar, em síntese, as ideias-chave que incitam à reflexão das famílias cristãs. O trabalho, o seu sentido na sociedade hodierna, marcada pela globalização e pela impetuosa revolução tecnológica, o seu impacto sobre as dinâmicas familiares e os desafios que tudo isto coloca à consciência dos crentes foram os temas centrais no dia de ontem no VII Encontro Mundial das Famílias.

Na sua saudação mons. Jean Laffitte, secretário do Conselho Pontifício para a Família, sublinhou o significado do trabalho para a família cristã, como um «dever sagrado», evidenciando entre outras coisas, como «a santidade do trabalho é contradita por todas as atividades que pretendem diretamente privar os homens desta dimensão, ou oprimi-los com estruturas sociais inumanas que os reduzem a meros instrumentos de lucro, para fazer crescer as disparidades na destinação dos bens». O cardeal Dionigi Tettamanzi, arcebispo emérito de Milão frisou a relação entre família e trabalho numa dupla perspetiva: à luz da Palavra de Deus e da doutrina social da Igreja, com uma referência cristológica explícita, insistindo em Jesus, «filho do carpinteiro de Nazaré», graças ao qual «também o nosso trabalho se torna lugar de salvação e de santificação para nós e para os outros».

O professor Pedro Morandé Court, sociólogo chileno, traçou um retrato interessante sobre as dinâmicas relativas à relação família-trabalho no contexto atual e das perguntas que elas suscitam para os cristãos. Sem esconder os desafios e as insídias atuais, o investigador lançou aos participantes no Congresso internacional Teológico pastoral um desafio para saberem ler os sinais dos tempos, ou seja, as novas oportunidades oferecidas pelo contexto social, económico e cultural, para darem um testemunho mais eficaz e credível do Evangelho de hoje.